O Encontro no Desencontro

Hoje sai de tarde para devolver alguns filmes na locadora e aproveitei para passar na casa de uma amiga que é no caminho, só para deixar um presente que comprei para ela há mais de seis meses quando foi seu aniversário.

Era assim, nossos horários nunca se encontravam. Quando eu ligava ela não estava ou tinha compromisso, quando ela estava disponível era eu quem não podia ir vê-la. Então para enganar o desencontro passei por lá sem avisar, pensando em deixar o presente na portaria.

Assim fui a pé para aproveitar o vento que estava fresco. Cortei caminho por uma grande praça que tem perto de minha casa e quase não a vejo como a vi. Já sai de casa diferente do que de costume.

Ao chegar à portaria do prédio, só para deixar o presente, fiquei sabendo que ela estava em casa e subi só para entregar o tal presente. Fiquei lá por mais de duas horas, conversando com essa amiga que poderia ser irmã, mas que já foi minha mãe muitas vezes e, sem saber, também já foi minha analista.

Foi uma dessas tardes privilegiadas com uma pessoa que não sei elogiar, que não conheço palavras para dizer o quanto ela é especial, o quanto ela diverge do senso comum de lidar com as pessoas. Me considero afortunada por sua presença em minha vida. Fiquei surpresa ao ouvi-la dizer o quanto aprendeu comigo. Ela começou a relatar coisas que eu disse a ela e que não deixa de colocar em prática no seu dia-a-dia.

A cada coisa que me ouvia falar e que ouvia dela, que eu contava e que ela me relembrava fui observando o quanto amadureci nos últimos anos depois que a conheci. É enriquecedor trocar com quem é tão observador e sensível.

Me lembrei de quando a conheci eu estava na fase mais difícil da minha vida e eu perguntava a ela: “Onde será que todo esse sofrimento vai me levar?” Nessa época, no auge do meu desespero ela só me ouvia e dizia para eu ter calma. Eu não tinha calma mas mesmo assim a ouvia e acreditava nela.

E hoje estar ao lado dela mas sendo outra pessoa, a pessoa calma que ela tanto me influenciou a ser. Me ver neste lugar e me lembrar de tudo que vivi, não dou  risada de nada, mas tenho orgulho de ser quem sou.

4 Comentários (+adicionar seu?)

  1. Daniela Neves
    jun 25, 2012 @ 20:46:04

    (…) “para enganar o desencontro passei por lá sem avisar” (…)
    Andreia, uma metáfora para dizer que era preciso encontrar alguma maneira de se fazer o que desejava.
    Inventou um encontro muito especial.
    Quando há desejo é simples, está ao alcance: é só atravessar a praça.
    Beijo.

    Responder

  2. Mercedes Bueno de Morais
    jun 25, 2012 @ 13:41:32

    Então, é assim que vejo todos os dias o todo. Abraços amiga, pela visita que me fizeste virtualmente.

    Responder

  3. Mirelle
    jun 25, 2012 @ 12:16:40

    Lindo, Andréia. Uma homenagem a essa amiga especial. Poético! Gostei muito.

    Responder

  4. Garabet
    jun 23, 2012 @ 00:55:50

    O Encontro no Desencontro, penso ser uma invenção de uma solução ao desencontro amoroso, à desarmonia da relação existente própria da pós modernidade.
    Penso, quando penso, que necessitamos de uma ética que fale de responsabilidade pelo desencontro, pelo acaso e pela surpresa. Nisso Andreia vc foi firme, no mundo de hoje, nosso desejo é um descompasso ao nosso querer…

    Se a vida é arte do encontro
    Embora haja tanto desencontro pela vida,
    Fica a pergunta: Como viver nessa dualidade, entre o que eu quero e o que eu desejo, tendo em vista o Princípio Responsabilidade?

    A isso vc responde com sua altivez e coragem em fazer valer o seu desejo…
    Continue desejante…
    Garabet

    Responder

Deixe um comentário